Por GARIBALDI RIZZO
A história de Trindade antecede a história da Capital do Estado, Segundo o IBGE, por volta de 1840, já existia em terras pertencentes a Campinas ou Campininha das Flores (hoje bairro de Goiânia), um aglomerado urbano, conhecido por Barro Preto, nome do Córrego que margeava a nascente povoação. No lugarejo, viviam Constantino Xavier Maria e sua esposa Rosa. Certo dia, roçando um pasto, encontraram um medalhão de barro, em que estava gravada a Imagem da Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria. A partir daí, começaram a rezar o terço, todos os sábados, diante do Medalhão. Em 1843, Constantino Xavier dirigiu a construção da capela, coberta de folhas de buriti, para abrigar os moradores. O grande número de graças alcançadas, sob a invocação do Divino Pai Eterno, atraiu vários fiéis, e. em 1866, foi construída, com donativos, uma Capela, denominada Capela-Mor do Santuário. Doadas terras, no mesmo ano, por Constantino Xavier e sua família, além de Luís de Sousa, foi formado o Patrimônio da Capela do Divino Pai Eterno, passando, o povoado, a denominar-se Trindade, símbolo da Tríade Divina. Constantino encomendou a José Joaquim da Veiga Vale, autor de esculturas religiosas, uma cópia da imagem, em madeira, medindo 32 cm, reproduzindo a original, que mais tarde foi extraviada.
Como foi dito anteriormente, ela pertencia ao antigo município Campinas que foi elevada a categoria de Município em 1907 tendo os arraiais de Barro Preto e São Sebastião do Ribeirão (atual Guapó) incorporado a ele. Dois anos após a criação do município de Campinas é criado o distrito de Barro Preto que muda de nome para Trindade. Cinco anos mais tarde é a vez de Ribeirão se tornar distrito. Em 1911 e 1912 foi construído o atual Santuário “velho” (Igreja Matriz).
Trindade foi levada a categoria de Vila em 16 de julho de 1920, cuja instalação se deu em 31 de agosto de 1920. Tendo seu território desmembrado de Campinas e ficando a ele anexado o distrito de Ribeirão. Em 20 de julho de 1927 sua sede é elevada à categoria de cidade. Com a construção da capital do estado, Trindade volta à condição de distrito em 1935 e só recupera o posto de cidade oito anos depois. Em 1963, Campestre de Goiás se torna um distrito e é anexado ao município de Trindade, mas no mesmo ano é feito o desmembramento dos dois municípios.
Trindade possui 719,75 km² e tem uma população de 113.447 habitantes segundo estimativas de 2013 do IBGE . A cidade surgiu da romaria à imagem do Divino Pai Eterno e continua seguindo sua vocação religiosa até hoje. Atualmente faz parte da região metropolitana de Goiânia.
A devoção ao Divino Pai Eterno tirou uma cidade do anonimato, criou oportunidades de emprego e renda para a população local, atraiu investimentos públicos. O município de Trindade surgiu e se sustenta pelo vaivém de romeiros, que não se restringe à época do principal festejo, entre junho e julho. É um exemplo de como a fé — e o dinheiro gerado em torno e a partir dela — consegue revolucionar a economia de uma localidade.
Centenas de caravanas chegam a Trindade, onde a peregrinação forçou, nos últimos anos, uma explosão de restaurantes e pousadas para acolher os turistas. O número de visitantes tem crescido a cada ano: em 2013, foram 4 milhões, sendo 20% de outros estados, principalmente Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
A basílica de Trindade é a única no mundo dedicada ao Pai Eterno, devoção católica de 174 anos. Podendo abrigar até 5 mil pessoas, o espaço ficou pequeno e um novo templo com o dobro da capacidade está sendo erguido desde 2012 com a doação dos fiéis. Ainda sem data para ser concluído, o megaprojeto já consumiu R$ 10 milhões.
Trindade também é berço da Vila São Cottolengo que foi criada em 11 de fevereiro de 1951, pelo missionário Padre Gabriel Vilela, a partir da doação de uma fazenda da Diocese de Goiás. Inicialmente a Vila acolhia mendigos e pessoas doentes, o crescente aumento de pessoas portadoras deficiências físicas e mentais na Vila, fez com que a mesma fosse expandida e que buscasse novos parceiros. Atualmente, a Vila cuida de 365 pacientes portadores de deficiências crônicas associadas e é mantida por recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e de doações, um trabalho social reconhecido por todo país.
Com a expansão da área metropolitana da Capital o município de Trindade apresenta duas porções territoriais bastante distintas: a primeira ligada ao passado religioso, o qual deu base para o surgimento do município, e que é bem representado pela Igreja e suas diversas ramificações (como é o caso da Vila São Cottolengo) e a segunda ligada ao recente distanciamento de Trindade de seu núcleo original, representado pela área fruto da conurbação com os limites de Goiânia ao longo da rodovia dos Romeiros, o conhecido trecho da GO-060, principal via de peregrinação dos romeiros que, todos os anos, se dirigem a Trindade, para processar a fé no Divino Pai Eterno.
Um exemplo disso pôde ser observado em uma porção territorial afastada da sede deste município, denominada Trindade II. Segundo Rodrigues; Barreira e Chaveiro (2008) “ objetivando aproximar Trindade da capital do estado e a partir do decreto lei nº. 239 de 21 de março de 1978, o qual instituía acerca dos novos limites do perímetro urbano desta cidade, a área que compreende Trindade II foi construída, caracterizando-se tanto por apresentar precária infraestrutura, quanto por se constituir como: “uma ruptura com o núcleo urbano inicial, ou seja, com a sede do município, fragmentado tanto a cidade quanto seu espaço urbano”. Dessa forma, dentre os fatores que impulsionaram a ocupação populacional de Trindade II, foi a quantidade de indústrias que se instalou nesta área
Outro exemplo é o Jardim do Cerrado que é um residencial de moradias populares localizado na região Noroeste de Goiânia, na saída para município de Trindade. Trata-se de um programa de habitação vinculado à Secretaria Municipal de Habitação (SMHAB) em parceria com o Governo Federal, através do programa Minha Casa, Minha Vida. No ano de 2010 o residencial contava com aproximadamente 2.300 famílias que foram previamente cadastradas e selecionadas para serem contempladas pelo programa. Segundo a revista eletrônica Observatorium da UFG: " A oportunidade de melhoria na qualidade de vida, por meio de habitações populares, esbarra em alguns problemas socioespaciais, como as distâncias entre a moradia e o trabalho, a territorialização do tráfico de drogas e a violência. Políticas públicas e medidas preventivas e mitigadoras deveriam, no âmbito do planejamento do próprio residencial, prover respostas e alternativas frente aos referidos problemas , ao mesmo tempo em que o residencial se materializa enquanto condição de habitação, e dessa forma como possibilidade à formação de direito e cidadania, se consolida também como lugar exclusivo de famílias pobres e marginalizadas, em outras palavras, o residencial reflete espacialmente a divisão de classe e a concretização da segregação socioespacial da cidade.”
Outro impacto que a região vai sofrer é com a nova rota para a tradicional Romaria do Divino Pai Eterno, que foi inaugurada pelo governador Marconi Perillo. Trata-se da rodovia José Alves Rios (GO-469), que liga Abadia de Goiás a Trindade. Na prática, a obra vai encurtar distâncias para os romeiros que utilizam a BR-060, vindos do Sudoeste Goiano, em direção a Trindade.A obra prevê duas etapas. A primeira, já entregue, vai de Abadia a Trindade, e a segunda, com previsão de ser concluída até o fim deste ano, vai ligar Trindade a Goianira, com certeza esta rodovia irá ampliar ainda mais a área de expansão urbana da região metropolitana.
Trindade é hoje uma das cidades da regional metropolitana de maior densidade empresarial e de expectativas de negócios. É uma cidade que vive o processo da industrialização. Muitas das indústrias que lá existem empregam pessoas de Goiânia. Alguns municípios do entorno deixaram de ser cidades dormitório e passaram a absorver a mão de obra da capital, como é o caso de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade.
Diferentemente de Goiânia, a ocupação de Trindade não se consolidou a partir de um planejamento prévio, o que influenciou na desigual distribuição da população gerando disparidades socioeconômicas e físico-naturais existentes em um mesmo município.
O Plano Diretor Metropolitano em fase de desenvolvimento pela Secretaria de Estado da Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos irá dar este norte ao desenfreado crescimento urbano no entrono da nossa Capital.
(Garibaldi Rizzo, arquiteto e urbanista, presidente do Sindicato de Arquitetos e Urbanistas de Goiás)
Nenhum comentário:
Postar um comentário